Abnegação Pt. 03

Informação da História
Amor, violação e vingança.
7.5k palavras
0
782
00

Parte 3 da série de 3 partes

Atualizada 06/10/2023
Criada 06/22/2021
Compartilhe esta História

Tamanho da Fonte

Tamanho de Fonte Padrão

Espaçamento de Fonte

Espaçamento de Fonte Padrão

Tipo de Letra

Face da Fonte Padrão

Tema de Leitura

Tema Padrão (Branco)
Você precisa Entrar ou Criar Conta para ter sua personalização salva em seu perfil Literotica.
BETA PÚBLICA

Observação: você pode alterar o tamanho e a face da fonte e ativar o modo escuro clicando na guia do ícone "A" na caixa de informações da história.

Você pode voltar temporariamente para uma experiência Classic Literotica® durante nossos testes Beta públicos em andamento. Considere deixar comentários sobre os problemas que você enfrenta ou sugerir melhorias.

Clique aqui

ABNEGAÇÃO - Amor, violação e vingança

By P. Lighthouse

Terceira e última parte da serie "ABNEGAÇÃO".

Advertência aos leitores:

Indispensável a leitura das duas partes anteriores.

Ao contrário dos anteriores, neste relato há cenas explícitas de sexo e cenas extremamente violentas, bem ao estilo dos thrillers nórdicos.

Se isso o(a) incomoda, o autor não recomenda que continue a ler.

---------------------------------------------------------------------------------------------

Depois de começar a viver com Célia, a nossa vida mudou cento e oitenta graus.

Eu passei a ser o homem mais feliz do mundo e ela também vivia felicíssima.

A minha falta de experiência no campo sexual, foi compensado pela experiência de Célia.

Por mais que me doa reconhecê-lo, o dissoluto do Gustavo tinha-a treinado bem. E Célia, sem me magoar, sem me fazer sentir o inepto que era, foi-me ensinando tudo pacientemente.

Com ela aprendi os prazeres do sexo oral mútuo, a controlar as minhas ejaculações que antes eram pouco menos que precoces e meio ano depois eu era um amante normal. Não sou um atleta sexual, mas ela está contente. Hoje é uma mulher calma, com valores, sabe desfrutar dos prazeres da vida e aprendeu a desprezar o tipo de vida vazia que tinha antes, onde só conheceu o prazer físico, o vício e o sofrimento.

A minha experiência anterior resumiu-se a quatro vezes por mês com uma prostituta, sempre com a mesma, que é um encanto de mocinha. Continuo a dar-lhe quatrocentos euros por mês, que era o que gastava com ela anteriormente e disse-lhe que o faria durante dois anos, como prémio pelo bem que se portou sempre comigo. Ficou agradecidíssima e desejou-me felicidades na minha nova vida. Na primeira semana de cada mês, deixo o dinheiro em numerário dentro de um envelope na sua caixa de correio, para não deixar vestígios...

É o único segredo que tenho com Célia e obviamente nunca lho poderei contar.

"Célia meu amor, estou-te agradecidíssimo."

"Porquê meu querido?"

"Por tudo o que me tens ensinado e pela tua paciência. E o que me desespera é que tudo isso..."

"Tudo isso quê?"

"Tudo isso o aprendeste com ele. Acho que nunca te vou satisfazer como ele e isso desespera-me!"

"Que enganado estás meu amor! Com ele nunca conheci a doçura de uma relação. Nunca ouvi uma palavra de carinho da sua parte. Só frases ordinárias, às vezes até dor física e mais de uma vez um bofetão se eu lhe dizia que não me apetecia. O medo e a insatisfação estavam na órdem do dia, mas nunca tive coragem de o deixar. Tínha-me ameaçada."

"De verdade? Não o dizes só para me consolares?"

"Não meu amor. Sempre que me fazes as tuas meiguices tenho um orgasmo. Provocado pelo prazer físico que me dás e pelo amor tão intenso que sinto por ti. E que não te ocorra pensar que é simulado. Com ele nunca conheci o sexo com amor e se tinha algum orgasmo, era de uma forma viciosa. Depois sentia um vazio tremendo. E sentia-me suja. Contigo tenho tudo o que uma mulher exigente pode desejar. Preenches completamente o que foi o vazio da minha vida e não poderias fazer-me mais feliz."

"Nunca sentes desejo de o fazer com outro homem?"

"JAMAIS! E não voltes a ofender-me com semelhante pergunta."

"Perdoa-me."

Tiro-lhe as próteses todas a noites para dormir. Lavo-lhe com gel de banho para bébé as partes das pernas que ficam dentro das próteses, seco-a com uma toalha de felpa suave e beijo-lhe o que resta das suas pernas e as cicatrizes. Depois aplico-lhe loção hidratante para bebé e calço-lhe umas meias fininhas próprias para o tipo de lesões que ela tem e feitas para ela por medida, para que esteja confortável durante a noite.

Na primeira vez que o fiz, Célia começou a chorar.

"Porque choras meu amor?"

"Dou-te muito trabalho... Não é justo. Sou um empecilho na tua vida."

"Célia... Tu não podes imaginar a quantidade de vezes que, no passado, vi esta cena na minha imaginação e como desejei ser eu a fazê-lo, noite após noite... Estou a satisfazer esse meu desejo até ao mais ínfimo detalhe. É para mim um previlégio e uma das formas que tenho de te fazer sentir o enorme amor que te tenho! Por isso, quando o fizer, olha para mim feliz pelo prazer que me estás a dar. Não só de sexo vive o homem!"

"Amo-te Carlos! Tornas tão fáceis coisas que são tão embaraçosas..."

"O amor é isso mesmo Célia! E nada tem de embaraçoso."

O tempo foi passando...

Célia começou a ver como naturais certas rotinas que antes a faziam sentir culpada.

Já tinha assumido que todos os problemas associados à sua invalidez eram parte da nossas vidas e sabia que eu só extraía prazer, fazendo-lhe todas as coisas que ela necessitava.

Mas alguma vez que outra ficava melancólica.

"Carlos... Tenho meditado muito sobre as nossas vidas. De verdade que te dá prazer fazer-me todas essas coisas que uma mulher normal não necessita? Por um lado sei que sim, mas por outro... tenho medo que um dia te fartes dessa rotina."

Lambi-lhe as lágrimas que escorregavam pela sua face.

"Minha salgada Célia! Achas que algum dia me vou fartar da rotina de respirar?"

"Não me gozes!"

Agora ria-se, mas continuava a verter lágrimas.

"Célia, não disse nenhum absurdo! Tu és o oxigénio do meu espírito. Tudo o que fizer por ti é pouco e nunca me vais fartar. Que pensas que aconteceria se tu, por um infeliz acaso, falecesses?"

"Ias ter um enorme e prolongado desgosto."

"Equivocas-te. Ía ter um enorme e curto desgosto. Enorme sem dúvida. E curto porque não tardaria muito em ir reunir-me contigo! Tu és a minha razão de viver. A minha vida só começou a ter sentido quando tu entraste nela. Sem ti não há nada que me dê motivos para continuar a arrastar-me pelo planeta. Antes vivia muito triste por não te ter, mas depois de me habituar a ter-te comigo, a tocar-te, a cheirar-te, a fazer amor contigo, se de repente me faltasses, isso seria tão monstuoso, que não poderia continuar neste mundo."

"CÁLA-TE! Até me arrepiei toda!"

"Então deixa de ter medo de coisas sem sentido. Mais depressa me farto de mim do que de ti!"

"Mas quando devia ter ido contigo... Optei por aquele degenerado. Sinto uma culpa enorme por te ter feito sofrer. Nem sei como não me varreste da tua memória. Era tão dissoluta e viciosa como ele. Não merecia nada... E quando fiquei assim, só me ajudaste. Desinteressadamente. Anonimamente. Nem Shakespeare teria sido capaz de descrever um amor como o teu. Só quiseste o meu bem e sem pedir nada em troca."

"Meu amor. Todos temos um passado. A nossa vida começou no dia em que a tua mãe me contou o teu drama. O anterior foi uma travessia do deserto. Finalmente chegamos juntos ao nosso oásis. E não podia ser mais feliz do que sou."

Mas o destino decidiu que tanta felicidade era demasiada.

Houve um dia em que Célia foi a um conhecido hipermercado muito grande e eu não a pude acompanhar.

Foi no seu BMW automático e homologado para ser conduzido por pessoas com o seu grau invalidez. A minha prenda de anos. Como habitualmente, gratificou um empregado para que ele lhe colocasse as compras no porta-bagagem.

Quando ela chegasse, eu iria buscá-las à garagem.

Mas o tempo ía passando e ela não voltava.

Quando eu estava a ponto de chamar a polícia, Célia telefonou-me chorando.

"Carlos... Vem... Estou no parking do hipermercado...Na zona mais distante..."

"Célia! Querida... Estás bem?"

"NÃO! Não tardes!"

Soluçava desesperada.

Saí correndo e quando cheguei, não tardei em ver o carro, mas ela não estava à vista.

Já começava a escurecer.

"AQUI!"

Gritou.

Estava caída no solo a uns duzentos metros do carro, numa zona vazia do parking e não se conseguia levantar.

Tinha um lábio rebentado, vários hematomas e o cabelo desalinhado.

A roupa bastante rasgada.

Comecei a chorar desesperado.

"Célia..."

"Fui violada Carlos. O Gustavo. Acho que estava drogado. Meteu-me na sua furgoneta e veio para aqui."

"Meu Deus Célia. Deixamos aqui o meu carro. Vamos buscar o teu."

Levantei-a e fomos juntos buscar o carro dela, os dois chorando, eu desesperado, desgostoso e com um horrível sentimento de impotência.

Ajudei-a a sentar-se bem e fomos para casa.

"Vamos à polícia?"

"Não Célia! Metem-no na grelha e sai uns meses depois... Este assunto tem que ter outro tratamento! Deixa o caso comigo. Felizmente ele trouxe-te para um sítio onde não há câmaras de segurança. Alguém te viu com ele?"

"Não. Mesmo que haja alguma câmara na zona onde me meteu à força dentro, a furgoneta teria bloqueado o campo de visão da mesma."

"Estás segura?"

"Estou. Completamente!"

"Aínda bem!"

"Porquê? Que vais fazer?"

"Matá-lo! Aínda não decidi como, mas vai pagar bem caro o que te fez."

"Ele dá cabo de ti. É uma besta de força."

"Não dará cabo de mim, nem ninguém descobrirá que o matei. Sem testemunhas do que ele te fez e sem eu ser visto nem filmado com ele, não há um fio por onde puxar. Por isso não o vais denunciar. Para a polícia, essa violação nunca aconteceu. Portanto não há um móbil de vingança e sem móbil não há investigação que se sustenha. Porque é que nenhum assassino em série inteligente é apanhado nos primeiros crimes? Eu digo-te. Porque escolhem vítimas aleatórias e não há um móbil. Ao contrário do que se pretende que a gente pense, há imensos crimes sem resolver. O meu, teoricamente será um crime, mas para mim é um ato de justiça. Uma execução. Quem te fizer mal pagará muito caro pelos seus atos!"

Célia pediu ao diretor do colégio que lhe desse uma semana de férias, por ter que tratar de assuntos pessoais urgentes que surgiram de repente. Pediu-o pelo telefone e não houve nenhum problema.

Não queríamos que ninguém a visse com os hematomas, por isso não saiu de casa e a Mariana nada contamos sobre a violação.

Felizmente ela estava a passar uma temporada com a sua irmã, que ficara viúva recentemente.

Ao fim de uma semana, tratada com cremes adequados, os hematomas foram desaparecendo e com um pouco de maquilhagem já não se notava nada da agressão.

Aprendi muito com a série Dexter e ía pôr em prática esses conhecimentos.

Teria que não deixar pistas, nem vestígios, obviamente seríamos os dois investigados, porque Célia vivera com ele e era fundamental que os investigadores nada soubessem da violação.

Gustavo pagaria com a vida o que fizera à minha querida mulher. E teria uma morte lenta e horrível!

Não faço mal a uma mosca, mas ai de quem se meta com a minha Célia... Aí converto-me em outro homem.

Gustavo levara-a para dentro da sua enorme furgoneta, onde tinha um colchão para as suas aventuras sexuais e violara-a vaginal e analmente. Depois ordenara-lhe que lhe fizesse uma felação. Ejaculou na sua boca e obrigou-a a engulir o seu semen.

Ameaçou-a de que se me contasse, me castraria na presença dela e depois nos mataria aos dois.

Como eu sempre fora bastante tímido e uma das suas vítimas de bullying preferidas no colégio, sentiu-se totalmente seguro. Para ele, estava completamente fora de questão que eu pudesse ser uma ameaça. Alguém que nunca se atreveria a enfrentá-lo!

Só temia pudéssemos ir à polícia, mas pensava que Célia jamais se atreveria desafiá-lo, sobretudo para proteger-me a mim... Habituara-se a forçá-la a ter sexo com ele contra a sua vontade e esta fora apenas uma vez mais. E disse-lhe que a queria ver duas vezes por semana no mesmo sítio e à mesma hora. 'Já sabes... Na próxima terça-feira, aqui à mesma hora. Se não vieres, o teu querido e inofensivo marido, amante, ou o que seja... Será quem pagará as consequências.' Disse-lhe.

Tenho uma quinta com uma pequena casa de campo na zona de Sintra.

Aí tenho um velho mas bem conservado celeiro, que já não é usado com esse fim, com uma oficina bem equipada e também o uso como garagem.

Aí comecei a preparar a execução de Gustavo.

Uma noite, numa obra, apanhei uns ferros abandonados, bastante ferrugentos, desses com 10 mm de diâmetro, que servem para fazer cimento armado.

Antes envolvi-os em papel de embrulho para não ficar nenhum vestígio de corrosão dentro do carro.

Comprei lâminas de corte para metal e um esmeril, para usar com a minha velha mas funcional rebarbadora. Iria usá-los e posteriormente deitá-los para um rio, juntamente com a rebarbadora.

Tinha já outra rebarbadora comprada um ano e meio antes e aproveitaria este momento para aposentar a velha.

Tenho um inverter, para ter no carro corrente de 220 V AC e funciona perfeitamente.

Assim, se inspecionassem as minhas ferramentas, não haveria vestígios do que fizesse com elas e eu nada faria dentro da oficina. Tal como Dexter, não deixaria pistas que se pudessem relacionar com o crime.

Se a polícia viesse inspecionar a minha oficina, só veria as minhas lâminas e o esmeril usados com a rebarbadora mais nova, em materiais que nada tinham que ver com os do crime...

E o que fizesse com outras ferramentas, seria numa zona onde niguém pudesse ouvir o ruido.

Preparei várias barras cilíndricas de ferro, todas elas afiadíssimas numa das pontas. Retirei-lhes a maior parte da corrosão com o esmeril e pintei-as de vermelho com um spray que tinha comprado vários meses antes e nunca tinha utilizado. Só não pintei as pontas afiadas.

Na dark web e sem deixar rasto, comprei uma pistola e anestesiante para adormecer animais selvagens. Extremamente eficaz e silenciosa. Teria que evitar usar uma dose que o matasse. Não era esse tipo de morte que eu queria para ele.

Tardaram quatro dias em enviar o material com a caixa e as etiquetas de um robot de cozinha, de uma marca conhecida.

Para despistar, se acaso fosse necessário, comprei um robot igual ao da caixa numa loja de artigos de segunda mão, usei um nome falso e paguei em numerário. Fui disfarçado. Nem a minha mãe me teria reconhecido.

"Célia... Aproxima-se o momento da verdade. Tenho quase tudo pronto."

"E se falhas e ele te mata?"

"Não falharei. Seguramente seremos investigados. Não encontrarão pistas. Se vierem fazer perguntas, conta-lhes toda a verdade do que viveste com ele, desde que começaste a relação até ao momento em que sofreste a amputação. Conta-lhe que ele desapareceu e não voltaste a vê-lo. E que ficaste bastante aliviada por isso. Não omitas o aborto a que te obrigou no início da vossa relação, mas não mostres ódio. Só indiferença."

"E tu que vais dizer?"

"Temos que estar preparados para ser interrogados por separado e não pode haver contradições, mas não devemos repetir o mesmo discurso, para evitar que se veja que é um discurso preparado. Fazem vários interrogatórrios repetitivos para encontrar contradições e ver se a gente tem respostas memorizadas. Repetir os factos, sem entrar em contradições, mas não as frases. Importantíssimo: Não mostrar emoções exageradas, porque isso faz suspeitar de intenções. Essa é a chave do êxito. Eu vou dizer que o detestava porque sempre me tratara mal no colégio e porque tu o escolheste a ele, mas como foi a tua escolha voluntária, não o culpava por isso."

"E sobre a violação?"

"Lembra-te de que não houve nenhuma violação recente, mas vais dizer-lhes que quando andavam juntos, te forçava a ter sexo quando ele queria, Se tu não querias, ameaçava-te, às vezes esbofeteava-te e tu cedias por medo, o que não deixa de ser uma violação, mas não empregues a palavra. Que isso é parte de um passado que tu só queres tentar esquecer. Não te deu nenhum desgosto a sua morte, mas também não te deu nenhuma alegria. Indiferença total."

"Sim. Farei isso mesmo... Se a polícia vier. Se calhar nem vem, mas há que estar preparados."

"Anteontem disfarcei-me de uma forma que nem a minha mãe me reconheceria e comprei um velho Nokia e o respetivo carregador, numa loja que vende material desse tipo usado, provavelmente roubado. É este. Pus-lhe um chip não identificável."

"Caramba! Que peça de museu."

"Sim. Já o provei. Agora vamos de carro para muito longe daqui e vais telefonar-lhe. Vais dizer-lhe que ele te fez recordar velhos tempos e estás disposta a encontrar-te com ele de vez em quando, mas só podes começar na próxima sexta-feira, porque na terça não estarás em Lisboa e não queres fazer-me desconfiar. Claro que vais usar o Nokia. Dizes-lhe que tiveste muito medo, mas sentiste muita emoção e queres repetir, porque só com ele és capaz de sentir pazer. Mas só se ele prometer não ser violento."

"E no dia D como vou para lá? De carro?"

"Não. Estacionas o carro noutro sítio. Depois vais num taxi para a zona do rendez-vous e aí farás a chamada, dizendo que chegas dentro de una hora. Vais disfarçada. Pões uma peruca de cabelo preto y uns óculos muito escuros, mas a ele não vais aparecer disfarçada."

Fui buscar a peruca que usara a minha falecida mãe, quando teve que fazer quimioterapia.

"Os nossos telemóveis ficam em casa ligados. Para o caso de serem rastreados."

"Ah sim. Não me tinha lembrado disso."

"Eu vou também de taxi, mas vou antes. Noutro taxi. Estarei escondido na zona onde está um monte enorme de caixas de cartão. Espero que entretanto não as tenham levado. Vou chegar duas horas antes da hora combinada. Aí estarás escondida comigo até vemos a furgoneta dele ao longe. Pões-te à vista, simulas que tropeças, cais e pedes-lhe que te ajude a levantar. Aí entro eu na dança e dou-lhe um tiro com esta pistola anestesiante."

Mostrei-lha.

"Mas... de onde saiu isso?"

"Já te contarei os detalhes... Faz menos ruido que a abertura de uma garrafa de champanhe e deixa-o a dormir mais de meia hora. Está ok?"

"Oh sim! Que emoção! E como volto para casa?"

"Comigo, na carrinha dele e deixo-te perto de uma praça de taxis. Estará amarrado e amordaçado, tapado com um oleado verde escuro."

"Não faz falta. Ele tem uma cortina negra que se fecha com velcro. Não deixa ver nada e só há vidros à frente."

"Pois muito melhor! Tenho uma moto roubada que comprei a um ladrão que se anuncia na dark web e o restante material escondido num sítio seguro. É uma velha Yamaha 125, bastante leve e meto-a dentro da furgoneta, junto com o material. "

"E que vais fazer com a furgoneta?"

"Levo-a a un sítio que tem uma rampa natural, direta a um precipício. Com um bocado de sorte cai no mar, mas se isso não acontecer, vão dentro oito depósitos de vinte litros com gasóleo, sete de plástico e um de vidro, desses grandes para vinho. Cento e sessenta litros, mais o que houver no depósito. E um cocktail molotov a que pego fogo justamente antes de lançar a carrinha."

"E isso não pode ser perigoso para ti?"

"Pode, mas o risco é mínimo. Sei fazer as coisas. O gasóleo não é perigoso como a gasolina. O cocktail só pega fogo quando a garrafa se partir e o garrafão de vidro de vinte litros rompe-se no primeiro embate forte. Aí haverá um fogo jeitoso."

"Tenho medo!"

"Não tenhas. Depois volto na moto, por estradas secundárias e estaciono-a num parking com toda a naturalidade. A seguir vou de metro, deixo passar três estações e apanho um taxi, para ficar a uns quinhentos metros do sítio onde tenho o carro. Tu entretanto vais de carro para a quinta, onde nos reuniremos. Dormimos lá essa noite e faremos amor para celebrar."

Tudo fora bem pensado e executado.

Gustavo ficou lívido quando eu apareci de pistola na mão. Pela primeira vez vi o medo estampado no seu rosto.

"Então pensavas que um lixo como tu podia ter algum interesse para mim? Hoje vais pagar muito caro tudo o que me fizeste no passado e vais arrepender-te mil vezes de me teres violado. E às pobres moças e mulheres que te denunciaram, mas não conseguiram meter-te na grelha. Vais ser castrado antes de morrer. Corto-te eu mesma a pila e depois o Carlos corta-te o resto. Só tenho pena de não assistir."

Dei-lhe um tiro com o anestésico. Uma dose para anestesiar um animal de cento e cinquenta quilos. Ainda cambaleou dez metros antes de caír adormecido.